.: janeiro 2010
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um blog, aqui. uma peça, atualmente em cartaz. um filme, em algum lugar do futuro. músicas e sentimentos, em toda parte.

domingo, 17 de janeiro de 2010

sábado, no verão

ele chega em casa e escuta músicas para cortar os pulsos e ele quer que essa peça já existisse. ele tem preguiça existencial e melancolia aguda, ele tem vontade de tentar dormir de novo embaixo da mesa ou de comer um sanduíche, ele tem só vontade, mas ainda não há sol.

ele tem vontade de que o futuro não chegue nunca ou que ele chegue logo para lavar embora tudo o que ainda resta do que não é bom.

ele chega em casa de madrugada, ainda antes de cruzar a fronteira da manhã, mas ele ouve essas músicas e ele queria assistir a essa peça, em vez de ter que fazê-la. ele se sente sozinho e triste e patético e ele deseja que você nunca tivesse existido, para que não tivesse vindo estragar o que era perfeitamente certo. mas já que você existiu e em algum lugar ainda existe, ele só deseja que você desapareça, para que ele não se sinta mais patético.

ele tem vontade de beber água e tomar sorvete e sair cantando pela rua como se chovesse, mas agora não chove mais e tudo o que ele pode esperar é dormir em sua própria cama. ele gosta de ‘camas desfeitas’ e gostaria de talvez acordar em uma que não fosse a sua própria, só para sentir saudade dela e sentir-se inútil e desoladoramente boêmio como ele vem lutando para não mais ser.

ele queria de novo confrontar-se de surpresa com uma parada de elefantes ou, atualizado, ele queria fugir para uma ilha onde estão as coisas selvagens. onde vivem os monstros. sua melancolia solitária é a de um garoto em seu iglu, seus vôos fantasiosos são belos como aqueles nascer e pôr do sol, seus afetos são delicadamente monstruosos.

ele que nem sabe mais fingir que tem um tapete voador, ele vai dormir. mas sem querer.