.: 2009
.

um blog, aqui. uma peça, atualmente em cartaz. um filme, em algum lugar do futuro. músicas e sentimentos, em toda parte.

sábado, 14 de novembro de 2009

ressaca

e de dentro desse meu mar ressacado, eu olhava o céu cinza e a tormenta e as ondas transtornadas me prendendo, e não me movia, sentindo esse mar mexer no aqui de dentro. eu tinha vontade de não querer mais nada e desaparecer um pouco, pra ver se desaparecia com tudo isso que é de sentir.



segunda-feira, 9 de novembro de 2009

eu queria ficar com você só pra terminar com você e poder sofrer e te gritar o quanto meu sofrimento é grande porque o meu amor é grande e o quão infeliz você é de perder uma pessoa tão especial quanto eu.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

peer pressure (parada de elefantes)

chegando em casa de manhã, as primeiras luzes do sol refletidas nos prédios da frente, ele acha que tudo parece melancólico.

ele sente que podia sair flutuando pela janela, como se o seu corpo boiasse no mar, ele que se sente à deriva - ele que se sente...

seu coração também flutua dentro dele, sem alento, sem bússolas. ele poderia querer estar diante de uma parada de elefantes, inusitado e simples assim. feliz sem explicação.

ele sabe qual a música que faria seu corpo errante como seu coração, na atmosfera difusa de mais uma manhã a qual ele chega acordado.

ele então coloca a música para tocar no computador, pensando que gostaria de saber tocar piano para tocá-la ele mesmo.

pesado, seu corpo só faz mesmo deitar embaixo da mesa e, ali mesmo, adormecer.


domingo, 9 de agosto de 2009

alice

- por que mesmo quando você tá perto você tá longe, Alice?

- eu tô perdida (eu tô perdida).

- eu te amo.

(através do vidro)

me encontre

me encontre em Montauk.

ou, se você preferir, somente no bosque.

mas me encontre.

domingo, 26 de julho de 2009

mapas

não tenho ainda novos mapas, ando para frente um pouco sem rumo. não conheço mais os caminhos, eu que sempre te expliquei os caminhos, e não há guia de ruas que me salve.

ficções da memória

hoje senti você se estraçalhar no ar dentro de mim em forma de uma canção estranha e linda que flutuava meus ouvidos.

senti vontade de te escrever uma carta imensa.

senti vontade de verbalizar textualmente uma porção de sentimentos ocultos sob as cortinas gastas e pesadas das lembranças.

mas tudo acabou junto com a canção.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

astronauta diz pra mim cadê você, bailarina não consegue mais viver...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

movimento III

das possibilidades de o amor ser movimentos de corpos, hematomas e um certo tanto de agressão.

terça-feira, 28 de abril de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

estudo de sentimento nº 01

por T. Ledier


Existem pessoas que, quando chegam, causam como uma explosão cósmica dentro da gente. É um encontro que faz nascer, no mais profundo, uma nova galáxia onde antes não havia a não ser a escuridão de desconhecer aquela sensação. E então, ali, brota uma ânsia, um desespero de contar essa nova descoberta para o outro. Um desespero para que o outro sinta essa explosão e divida com a gente o espanto desse surgimento inesperado. Mas parece que contar não é o bastante: o outro pode entender esse acontecimento, mas entender é pouco diante de tanto espanto: é preciso que ele também o sinta. Mas o outro é incapaz de sentir o que se passa no nosso de dentro. E sempre parece que o outro tem, no máximo, um telescópio que o permite observar essa galáxia espantosa, mas não possui uma grande, bela e potente nave-espacial que lhe permita viajar por ela toda, vivendo-a e descobrindo-a em todos os seus planetas, estrelas, satélites, poeira e buracos-negros.

E passamos a viver, então, como se engolidos por uma massa escura que devora, pouco a pouco, essa nova galáxia, e apaga as estrelas que brilhariam e encantariam e até alimentariam a própria esperança de que alguma delas se cansasse de brilhar e, fazendo-se caída, nos permitisse fazer um pedido que realizasse a presença concreta desse explorador-amante-de-novas-galáxias. Mas parece que a física, a química, a filosofia e os corações continuam mesmo sem saber como explorar outras galáxias. Ou, como um Pessoa disse: 'Que há de alguém confessar que valha ou que sirva? O que nos sucede, ou sucedeu a toda a gente ou só a nós; num caso, não é novidade, e no outro não é de compreender.




sexta-feira, 24 de abril de 2009

estudo de personagem nº 03

o que eu sinto é uma espécie de paralisia. mas que também pode ser chamada de desolação da ausência, de desespero da ansiedade, de angústia do não pertencimento. como uma criança que não é convidada para o jogo a que assiste de fora, sozinha.

como todas as pessoas tolamente apaixonadas, eu acordo pensando em você. e grito dentro de mim durante todo o dia a dor de não saber sobre a sua vida.

eu escovo os dentes e penso sobre a hora em que você acorda. penso sobre a roupa que você veste enquanto lavo as minhas e sobre o que você faz durante a manhã enquanto eu sinto muito sono. quando saio e dou "bom dia" ao porteiro, penso se você está cansado ou se dormiu bem.

eu me alimento mal e penso sobre onde você almoça. faço sozinho as palavras cruzadas do guia da programação cultural da semana e penso sobre com quem você conversa. sinto uma inelutável inércia durante as tardes e penso no que você faz das suas, o que você estuda, com quem você trabalha, por onde andam suas reflexões, o que você aprende, o que você esquece, o que você planeja.

eu deixo meu carro na garagem e penso se você pega trânsito, se você se irrita, como e para onde você se locomove, se você ouve música no rádio, se você ouve cds, quais são eles, se você canta junto, se estaríamos escutando os mesmos cantores no mesmo momento porque o nome disso é “sincronicidade”, se as músicas traduzem seus sentimentos tanto quanto os meus, quais então resumiriam o seu estado de espírito, quais te explicariam a mim e com que eficácia, o que eu preciso ouvir, o que eu preciso saber, o que você esconde e o que tem medo de não revelar, porque eu só to pedindo a tua mão e um pouquinho do braço, eu não quero que você me engula, não quero que você me assista, não quero que você me assuma, não quero que você me corte, talvez queira um pouco que você me inclua, eu só quero um segundo teu e um segundo meu, um instante de dois, apenas te peço que aceite o nosso estranho amor, por favor não evites meu amor, meus convites, minha dor, meus apelos, vem perder-te em meus braços, pelo amor de deus.

(não importa mais o que foi perdido, importa apenas o teu sorriso e nada mais)

eu trabalho esperando notícias suas que não chegam e penso em quantas vezes o seu telefone toca, quantas delas você atende, quanto tempo duram suas ligações, o que você escreve nas mensagens que manda e que não são pra mim, de quem você recebe as palavras que eu com muito esforço consigo não escrever.

eu tomo banho me achando desprezivelmente feio e querendo querer fazer exercícios físicos, pensando como seria se eu tivesse um corpo bonito. eu penso se você faz exercícios físicos ou se acha seu próprio corpo bonito e penso que eu acho ele bonito e que eu desejo o seu corpo sem exercícios físicos, exatamente como ele é.

eu tento me distrair com filmes, séries de tv ou com amigos que valem a pena e penso em quantas coisas divertidas acontecem com você, quantas piadas você está fazendo, quantas risadas está dando, quantas pessoas está fazendo rir.

eu penso nas coisas que penso e penso que queria dizê-las a você e que queria ouvir as que você andou pensando, ouvir as novidades, as descobertas, saber daquilo que você tem gostado ou não.

eu enfrento meus bloqueios criativos e uma vontade paralisante de me encolher em mim mesmo, no canto da sala, no escuro, talvez ouvindo tango com sombras quadriculadas entrando pela janela, e penso nos seus talentos, nas idéias que está tendo, no que está criando, nos projetos que planeja e dos quais participa, a quem está entretendo ou encantando, ou ambos, ou tudo.

calado sem tango ou diante da luz perfurante do computador que também me sonega notícias suas, eu penso sobre as tantas coisas que eu não sei e que você não está me contando. eu penso sobre os seus amigos que eu nem conheço e penso quantos deles te encontram. eu penso em quem pode estar te deixando feliz e nos diferentes afetos que você pode estar trocando com outras pessoas que não sou eu. eu penso em quem encosta no seu corpo, quem te olha nos olhos, quem te beija, se é que beija, porque eu queria que ninguém te beijasse, mas não ia dizer isso mas já disse.

eu penso acima de tudo se você pensa em mim tanto quanto eu penso em você. se você também se corrói imaginando o que eu estou sentindo porque qualquer pessoa sabe que essa não é uma sensação agradável e é uma sensação que aliás incomoda tanto que você nem imagina, você nem imagina como as horas passam atordoantes enquanto eu procuro o botão que desliga meus pensamentos ou que me faz dormir e preferencialmente não sonhar com você, o que é inútil porque eu sonho mesmo quase todas as noites.

eu penso sobre o que você pensa de mim. se me despreza, se se confunde, se sente a mesma saudades filha da puta que eu sinto.

eu vou dormir pensando que você podia ser uma dessas pessoas que surpreendem as outras, que ligam bêbadas às 3 da manhã ou que enviam torpedos mal digitados e escancaradamente sinceros, porque todo mundo sabe que eu sou assim embora seja evidente que muitas vezes eu me arrependa. eu olho as horas no meu telefone celular para saber se já são 3 da manhã e se alguma tentativa de contato aconteceu enquanto os minutos passam e são quase 3 da manhã.

eu vou dormir depois de não conseguir dormir, pensando se amanhã já será o dia em que eu não vou pensar em você, ou se pelo menos eu acordarei com esse pensamento. e pensando principalmente se amanhã é o dia em que talvez, por acaso, sem qualquer planejamento, eu possa vir a te encontrar.


terça-feira, 21 de abril de 2009

estudo de personagem nº 02

Eu não te conheci como costumam se conhecer os amantes que tem assim mais ou menos a nossa idade. Você não olhou para mim na luz incerta da pista de dança, eu não dancei te olhando fingindo que não te via, nossos olhares não se raptaram, nenhum de nós caminhou até o outro, nós não conversamos a conversa dos que se querem.

Eu não te sorri sorrisos interessados nem fiz meu corpo falar coisas que a boca geralmente cala. Eu não tentei ser charmoso e acreditar em uma troca sexual de energia, não tentei dizer as coisas certas, nem parecer interessante. Eu não elogiei sua beleza, ou sua inteligência ou seu senso de humor, ou seu carisma, ou seu charme, ou sua doçura ou nenhum dos seus tão evidentes predicados. Nem você os meus. Eu não peguei na sua mão nem te dei um primeiro beijo, nem um segundo, nem um terceiro. Eu não te dei meu telefone nem marcamos um outro encontro.

Nós não jogamos o jogo da sedução.

Eu não te mandei mensagens discretamente tomadas pelo primeiro encantamento, eu não te convidei para sair, nós não fomos ao cinema nem nos encontramos para um café. Não falamos sobre gostos gastronômicos, nem sensoriais, nem artísticos, nem emotivos. Não nos descobrimos ambos viciados em chocolate. Nós também não percebemos outros afetos e carinhos discretos e mútuos. Eu não te dei carona até sua casa do outro lado da cidade só tentando passar mais alguns minutos junto com você.

Nós não trocamos emails ambíguos e plenos de segundas e terceiras intenções. Nós não trocamos as palavras irresistíveis e ridículas das cartas de amor. Nós não intensificamos nossa convivência, nós não nos identificamos cada vez mais irremediavelmente, nós não quisemos cada vez mais a proximidade do outro.

Eu não projetei em você a minha carência nem a minha solidão, nem as minhas inseguranças. Eu não tentei acreditar que você era uma pessoa que combinava perfeitamente comigo. Eu não antevi nosso relacionamento, eu não fiz planos para um futuro que te incluía. Eu não imaginei as tardes que ficaríamos em casa vendo filmes e comendo chocolate. Eu não pensei nos lugares para os quais poderíamos viajar. Eu não me satisfiz com a idéia das peças e shows que veríamos juntos ou sequer das músicas que iríamos compartilhar.

Eu nunca te mandei uma música de amor.

Nós não avolumamos a troca de admirações conjuntas nem de paixões comuns. Nós não demos risada um do outro por motivos bobos, não nos achamos um casal bonito nos olhando abraçados no espelho, não tiramos fotos que eternizassem nossos sentimentos, não vivemos momentos prosaicamente inesquecíveis que jamais quereríamos apagar da memória, nós não quisemos ignorar outras presenças humanas para estarmos sozinhos num mundo sentimental só nosso.

Nós não inventamos apelidos ou termos vocabulares que nos fossem especiais. Não estabelecemos piadas internas, não falamos mal de quem não gostávamos, não nos demos quaisquer presentes criteriosa e amorosamente escolhidos. Não sentimos ciúmes um do outro, nem nos quisemos com exclusividade.

Nada disso nunca aconteceu entre nós.

*

No entanto, sabe por que eu fui me percebendo irremediavelmente apaixonado por você, ainda que sozinho? Eu também não. Mas se fosse supor, diria que essa convulsão que eu chego mesmo a sentir no corpo feito cólica, ao mesmo tempo que é um sentimento único meu, é também um mérito exclusivo da pessoa que você é. Um amor de mão única que existe tão somente em razão da capacidade do objeto amado de simplesmente despertá-lo. Como se com tantas pessoas desinteressantes no mundo, a presença de uma tão especial só pudesse gerar essa resposta, só pudesse ser retribuída com paixão.

E amor assim, tão de graça, tão sem esperança, tão imprevisto e que vive sem precisar de nada em troca, deve ser no fim das contas pelo menos um sentimento bom.

estudo de personagem nº 01

Eu danço tango na sala com a luz da rua fazendo na parede sombras quadriculadas da janela. Eu danço tango na sala, à noite, de cueca. Eu danço tango na sala escovando os dentes e fingindo que os móveis não existem. Eu danço o tango de “Felizes Juntos” porque eu estou apaixonado pela idéia de que você possa me amar.

Eu vejo a minha sombra passar entre os quadriculados da sombra da janela, à noite, de cueca, na sala, dançando tango. O meu corpo finge ter movimentos que não tem para que eu possa dançar tango, feliz porque você me ama.

Você dorme na minha cama no quarto ao lado e eu danço tango na sala. E é como se cada virada dessa música tão melódica e tão pulsante e tão esperançosa e tão triste e tão profundamente melancólica fosse a partitura do nosso amor que nem começou mas que eu sei que já vai acabar.

Eu danço para que ele não acabe. Eu danço para que num momento bom os momentos bons possam sentir-se eternos. Eu danço com a felicidade de Fred Astaire dançando apaixonado mas com a alma chorando o rosto de Mia Farrow.

Você nem sabe que eu danço tango. E quem me vê não sabe porque eu danço.

Você dorme na minha cama no cômodo ao lado e talvez você já tenha esquecido o meu nome mas eu sei e meus pés que dançam sabem e a música sabe que eu quero te amar. E eu danço tango porque a rua Augusta só faz silêncio a essa hora e eu não consigo dormir com tanto silêncio. Eu danço para mostrar para a rua que pode haver tango e que pode haver você – com ou sem amor.